segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

ARTISTAS SEM MECENAS

* Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa


NO PASSADO, AS ARTES SERVIAM COMO INVESTIMENTO FINANCEIRO E STATUS SOCIAL. DESSE MODO, MUITOS ARTISTAS VIRTUOSOS RECEBIAM A PROTEÇÃO FINANCEIRA DOS CHAMADOS MECENAS. O TEMPO PASSOU, OUTRAS FORMAS DE INVESTIMENTO SURGIRAM, BANALIZARAM A QUALIDADE, SEM DIZER NA FALTA DE INCENTIVO QUE RESTRINGE O SONHO DE COMPETENTES MÚSICOS. ENTÃO, É PRECISO BATALHAR PARA SE DESTACAR. SER BOM E CRIATIVO SÃO OBRIGAÇÕES. UMA VISÃO DE MERCADO SERÁ O DIFERENCIAL.

Nos séculos passados alguns artistas (pintor, músico e escultor) virtuosos ganhavam a proteção financeira, abrigo e prestigio de nobres mecenas. Esses, por sua vez, investiam na produção e divulgação das obras dos seus poucos escolhidos. O artista ganhava título de nobre para poder se dedicar exclusivamente às suas criações. Mas o tempo passou e os mecenas foram desaparecendo da cena cultural. No passado, obras de artes serviam como investimento financeiro e status social. E a música tinha um valor lúdico impressionante. No clero e nos palácios havia muitos mecenas.





Através de seu admirador e mecenas, o imperador D. Pedro II, Carlos Gomes foi enviado a Milão, na Itália, para que aprimorasse seus conhecimentos em música dando início à brilhante carreira do compositor ao se apresentar no Teatro Alla Scallaa com a ópera O Guarani, baseada no romance homônimo de José de Alencar. 

Na atualidade, as formas de investimentos com lucros mais rápidos e status equivalente, contribuíram para a extinção dos tradicionais mecenas. E, outras formas apareceram, os chamados produtores e agenciadores artísticos de pop star que, ao criar uma estrutura imensa, em poucos meses possibilitam a projeção de um cantor medíocre. Desse modo, alguns músicos passam a acreditar em contos de fada, agindo como “gatas borralheiras” em pleno século XXI, onde um produtor – o príncipe encantado – aparece em sua porta procurando uma voz de sereia ou um gênio da composição e/ou de um instrumento musical.

Hoje, o músico que acordar para vida real tem mais chances de furar o bloqueio da falta de incentivo financeiro e construir uma carreira profissional com profissionalismo e metas. Ser bom e criativo são obrigações e se possuir uma visão de mercado, este será o diferencial. Não se contente com o seu melhor hoje, acredite sempre que será muito melhor amanhã. Muitos músicos são virtuosos na sua arte e se esquecem de expor para o público que deseja atingir. 

O músico independente, em particular, não tem fôlego para lançar um disco a cada dois anos, tendo em vista seus poucos recursos de divulgação e distribuição de seu CD. O mais aceitável será traçar metas a curto, médio e longo prazo. Os primeiros mil CDs são fáceis de vender. Contudo, multiplicar esse número por dez é mais complicado e leva mais tempo. Antes de se enroscar com gravadoras que não tem uma infra-estrutura de divulgação e distribuição, busque caminhos próprios. Lembre-se do dito popular: “Quem trabalha para pobre pede esmola para dois”. Conhecemos uma gravadora competente pelo seu plano de mídia (divulgação em rádios, jornais, revistas e internet) e ampla distribuição. Se o artista consegue chegar a um sucesso considerável sozinho terá mais independência de negociar contratos favoráveis com gravadoras maiores.

Hoje, as gravadoras contratam artista com a matriz do disco (fonograma) com qualidade e já com um certo público comprador. E, se você tem um CD de qualidade, uma visão de mercado e um público crescente, os modernos mecenas aparecem em filas indianas. Mas, não se pode esperar para ser financiado por “caças talentos”. Então, volte para a realidade. Pense na sua carreira como um empreendimento empresarial e deixe para a criação e apresentação ao público, a sua essência criativa e emocional. Ser famoso virou lugar comum. O difícil é no futuro existir pessoas comuns para consumir as obras de tantos artistas.

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*Antonio Carlos Da Fonseca Barbosa é jornalista, músico, letrista e poeta paraibano criador da revista online Ritmo Melodia com o intuito de divulgar a música popular, regional, instrumental e erudita, além de músicos - brasileiros ou não.





O QUE É PRECISO PARA SER UM MÚSICO PROFISSIONAL?


HUMILDADE, PONTUALIDADE, MATURIDADE ENTRE OUTROS FATORES, DEVEM SER LEVADOS A SÉRIO SE QUISER TORNAR-SE UM MÚSICO COMPETENTE, PROFISSIONAL!

* Por Daniel Baaran


Como todo mundo sabe, eu sempre deixei bem claro que o meu começo na música foi na igreja. Quando tinha 14 anos, eu já admirava dois tecladistas que tocavam na igreja, chamavam-se Lincoln e Reynaldo Daudt. Tocavam muito bem e encantavam a todos com uma bela harmonia vinda da música Gospel. Meu interesse era muito grande sobre como funcionava um piano ou teclado, como eles geravam esses sons e qual combinação era necessária para formar essa harmonia.  

Quando tinha 14 anos, eu já admirava dois tecladistas que tocavam na igreja, chamavam-se Lincoln e Reynaldo Daudt. Tocavam muito bem e encantavam a todos com uma bela harmonia vinda da música Gospel. Meu interesse era muito grande sobre como funcionava um piano ou teclado, como eles geravam esses sons e qual combinação era necessária para formar essa harmonia.

Certo dia, um amigo chamado Victor do Carmo que, atualmente é músico profissional, ia tocar um hino antes de começar o culto, “o que chamamos de prelúdio”, e me chamou para acompanhá-lo ao piano. Eu pensei: “Como vou acompanhá-lo se não sei tocar?” Porém, seu professor me ensinou meus 3 primeiros acordes. Por esse motivo, comecei uma jornada que mudaria a minha vida para sempre.

Fiquei tocando na igreja durante 8 anos, sabendo o necessário para suprir o que os hinos e os louvores pediam. Contudo, chegou uma hora em que a música pedia mais do que somente tocar aos domingos. E, aí veio a grande pergunta: “- O que é preciso para ser um músico profissional?”

Hoje, vou falar sobre os 10 principais pontos necessários para que você se torne um músico profissional de sucesso.

1º Estude muito – quando você toca na igreja ou como um hobby, você não tem a necessidade de sempre acertar. Pode ser que às vezes você dê uma “erradinha” e ninguém note. Porém, quando se é profissional, não se pode errar. Cada erro gera um comentário entre os músicos e isso pode acarretar uma má fama! No site da Editora KEYBOARD você encontra vários cursos que o maestro disponibiliza com preços acessíveis. Então, aproveite e estude muito para se tornar um profissional competente.



2º Tire as músicas com antecedência – muitas vezes na igreja, o pessoal nem passava o repertório com antecedência. Usávamos o ensaio para tirar algumas músicas e as outras já tínhamos na ponta da língua, esse método não funciona quando se está no meio de profissionais. O ensaio dos músicos profissionais “quando tem ensaio”, na verdade, é para passar a música e acertar detalhes e não para tirar a música na hora. Caso você não tenha se dedicado à tirar sua parte antes do ensaio da banda, provavelmente seus companheiros ficarão muito bravos com você.

3º Menos é mais – no meu primeiro ensaio com músicos profissionais, aprendi uma lição muito importante: menos é mais! Como todo bom tecladista, gostava de mexer um pouco na harmonia, colocava uma tensão ou fazia o acorde mais cheio. Porém, isso não funciona em bandas profissionais. Quando cheguei nesse ensaio e comecei a mostrar minha bela harmonia fui logo levando uma bronca  dos meus companheiros de trabalho. A grande pergunta que eles fazia era:  “-O que você está fazendo? Que nota é essa? Estava no CD?” O mais certo a fazer é sempre deixar a música mais parecida o possível com a original. Se a música pede uma nota “dó” faça apenas um “dó”. Não precisa dar uma cara mais Soul ou complicar mais para parecer bonito.

4º Não se atrase! – Encarar a música com seriedade é demonstrar que você têm responsabilidade. Que cumpre horários assim como em qualquer outro trabalho. Quando ensaiava na igreja pagávamos por 2 horas de ensaio em um estúdio de música. Isso nos ajudava a não causar atrasos, fosse na pontualidade ou na montagem dos instrumentos. Quando você é profissional, não pode se dar ao luxo de atrasar, porque isso é um desrespeito com seus companheiros e tempo é dinheiro!

5º Conheça seu equipamento – outro fator importante é conhecer o seu equipa-mento, independente se é um teclado ou  um acessório, a leitura do manual do usuário e a busca por tutoriais na internet, trarão um resultado mais satisfatório quanto à exploração do seu equipamento de trabalho. Já vi várias vezes pessoas chegando com teclados simples porém bem timbrados e impressionando muito tecladista de Nord, Kronos, Fantom ou Motif por aí. O conhecimento do seu teclado vai te trazer resultados melhores e mais saudáveis para tocar sem tanto esforço. Procure sempre aprender e explorar cada dia mais o seu equipamento.

6º Invista no que há de melhor – no início, o músico pode começar com um equipamento mais simples e cachês mais baixos. Porém, quando você atinge uma maturidade profissional é importante pegar parte do lucro que obteve e investir em um novo equipamento. Quanto melhor seu equipamento, mais respeito você terá à primeira vista. Então, invista em teclados melhores, assim conseguirá cachês maiores.

7º seja profissional – não é porque você trabalha no que gosta que a sua vida será uma maravilha. Muitas vezes, ter que tocar na hora que não queria ou a música que não queria e no lugar que não queria. Porém, coloque-se no seu lugar e seja profissional. Entregar entretenimento não é necessariamente se divertir, faça tudo com excelência e aprenderá a ser um profissional maduro. 

8º Não tenha preconceitos – conheço vários músicos que só tocam o que gostam como Jazz, Soul, música instrumental. Isso é legal para ter como convicção e estilo de vida. Porém, não vejo nenhum deles com dinheiro na mão. Ser um profissional vai além de tocar o que gosta, se esses amigos tocassem outros estilos, estariam muito bem financeiramente. Por isso, um conselho: deixe seu orgulho de lado e entre de cabeça nos estilos que dão mais lucro. Tenho certeza que nas horas vagas, você poderá tocar o que quiser com seu equipamento de ponta e em um lugar legal, porque seu trabalho  proporcionou isso.

9º Não perca a humildade – muitos músicos após alguns anos de trabalho, obtém o reconhecimento. Isso pode trazer o que chamamos de ego inchado, conhecido também pela frase “subiu pra cabeça”. Muitas vezes, esses músicos de origem simples tornam-se soberbos, arrogantes. Para eles, eu cito uma frase da Bíblia, muito verdadeira, que diz: “o orgulho precede a queda”. Por isso, não deixe que o seu “EU” fale mais alto que a razão. 

10º Divirta-se – mesmo seguindo os passos acima esteja certo que trabalhar com música, sem dúvida alguma, é muito divertido. Então, aproveite! Ria, toque com alegria, aproveite ao máximo porque você tem um trabalho que pessoas dariam a vida para ter e não conseguiram chegar onde você chegou.


Espero que essas dicas ajudem você na conquista de ser um profissional de qualidade na área da música. Tamu Junto!!!! 

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*Daniel Baaran é músico autodidata e colaborador da Revista Keyboard Brasil.







PERPETUAÇÃO DA MÚSICA!

COMO FAZER COM QUE A MÚSICA PERPETUE? QUEM ESTÁ REALMENTE ENSINANDO? MÚSICOS? PROFESSORES DE MÚSICA? MALABARISTAS? COMO IDENTIFICAR UM BOM PROFISSIONAL DA MÚSICA PARA NOS CONDUZIR AO VERDADEIRO APRENDIZADO MUSICAL? QUER AS RESPOSTAS? LEIA O TEXTO!

* Por Luiz Carlos Rigo Uhlik 



A música precisa perpetuar! Pelo amor de Deus, a Música precisa perpetuar! O que significa perpetuar? Perpetuar é propagar; eternizar; imortalizar; transmitir de geração para geração...

Percebeu? E só existe uma maneira de fazermos com que a música seja uma constante na vida das pessoas, que a música perpetue, que se propague, eternize, seja transmitida de geração para geração: Através do ensino, de aulas, de professores de Música!

Muita gente tem me perguntado sobre como classificar um professor de música. Assim como na maioria das profissões, a música também tem seus profissionais qualificados e aqueles que não tem a mínima ideia do que estão fazendo. E, o pior: é a grande maioria. 

Pense comigo: Quem está, realmente, ensinando música? Músicos? Professores de música? Malabaristas? Mas, então, como identificar um bom profissional da música para nos conduzir ao verdadeiro aprendizado musical? A resposta é simples: observação. 

Observe as atitudes do seu “mestre”, a forma como ele realmente encara a música, como ele enxerga os conceitos básicos de melodia, harmonia e ritmo e se as músicas que estão tocando nas rádios, na Internet, nas Mídias Sociais estão próximas ou distantes dele. 

Não digo que ele deva ter um repertório moderno. Isso não. Nem eu tenho. As músicas que estão disponíveis hoje, na grande maioria são uma grande porcaria. O que as torna famosa é o lixo intelectual que a grande maioria das pessoas tem na cabeça e a qualidade impressionante dos processos de gravação. Como disse Lima Duarte (nome artístico de Ariclenes Venâncio Martins, ator, diretor, dublador e apresentador brasileiro): “estamos no auge da glamourização da ignorância!”

Assim como acontece na medicina, os equipamentos para detectar doenças e problemas de saúde estão extremamente sofisticados. Já os médicos...

Alguns professores estão aptos para preencher esta lacuna do aprendizado musical desde que tenham alcançado um ponto além do nível das escolas, conservatórios e institutos de música. E, principalmente, que sejam capazes de criar e sustentar o interesse pela música de forma completa e gratificante.

Se o professor lhe dá arrepios, emociona, incentiva você a viver música todos os dias, então siga em frente. Afinal de contas, o melhor professor é aquele que ensina onde olhar sem dizer o que ele vê. Agora, se isto não acontece, procure outro mestre! A Música precisa perpetuar!


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Luiz Carlos Rigo Uhlik é amante da música desde o dia da sua concepção, no ano de 1961, é especialista de produtos e Consultor em Trade Marketing da Yamaha do Brasil. 













EDGAR FRANCO - O CIBERPAJE DA BANDA POSTHUMAN TANTRA


CONHECIDO NACIONAL E INTERNACIONALMENTE NO MEIO UNDERGROUND, EDGAR FRANCO SE AUTODENOMINA CIBERPAJÉ. UM ARTISTA TRANSMÍDIA, PÓS-DOUTOR EM ARTE E TECNOCIÊNCIA PELA UNB, DOUTOR EM ARTES PELA USP, MESTRE EM MULTIMEIOS PELA UNICAMP E PROFESSOR DO PROGRAMA DE DOUTORADO EM ARTE E CULTURA VISUAL DA UFG. POSSUI OBRAS PREMIADAS ACIONALMENTE NAS ÁREAS DE ARTE E TECNOLOGIA, PERFORMANCE E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, ALÉM DE ÁLBUNS LANÇADOS POR GRAVADORAS EUROPEIAS. LEIA, A SEGUIR, A ENTREVISTA CONCEDIDA A NOSSO COLABORADOR AMYR CANUSIO JR. 

                         * Amyr Cantusio Jr.


 Fotos: Lucas Dal Berto e Hudson Lima


Entrevista

Revista Keyboard Brasil: Edgar, para irmos direto ao ponto, quais suas influências musicais e formação? Cite grupos, músicos, discos, teus estudos e preferências musicais à vontade.

Edgar Franco: Eu sou um músico autodidata que tenho formação formal na área de artes visuais. Sou pós-doutor em arte e tecnociência pela UnB, doutor em artes pela USP e mestre em multimeios pela Unicamp. Meu trabalho é transmídia, crio arte em múltiplos suportes e plataformas como pintura, desenho, quadrinhos, HQtrônica, games, instalações interativas, música e também as performances transmídia com minha banda Posthuman Tantra, envolvendo interação com vídeos criados a partir de meus desenhos, efeitos computacionais de realidade aumentada - somos a banda pioneira a utilizá-los no Brasil – e mágica eletrônica. Musicalmente, comecei como baixista influenciado pelo heavy metal e progressivo, depois migrei para os teclados, sintetizadores e controladores midi e conheci a música experimental e ambient que passou a ser forte referência para o Posthuman Tantra. Entre as bandas que considero seminais estão King Crimson, Tangerine Dream, Celtic Frost, Coph Nia, Brighter Death Now, Merzbow, Melek-tha, Alpha III, Mental Destruction, Abruptum, Sunn O, Ulver; entre os músicos,  destaco Syd Barret, Kitaro,Trent Reznor, Alan Parson, e Raul Seixas. Para citar alguns discos: I Robot (Alan Parson's Project), Crises (Mike Oldfield), To MegaTherion (Celtic Frost), Holy War (Coph Nia), Evil Genius (Abruptum), Monoliths & Dimensions (Sunn O). 


Revista Keyboard Brasil:  Qual tua atuação universitária atual?

Edgar Franco: Como destaquei sou pós-doutor em arte e tecnociência e atualmente professor efetivo do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da UFG - Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Oriento pesquisas de doutorado e mestrado envolvendo múltiplas linguagens artísticas e suas conexões com as tecnologias recentes. Sou coordenador do grupo de pesquisa CRIA_CIBER, com investigações que incluem performances musicais transmídia. Em estúdio, minha banda Posthuman Tantra, sou só eu, que gravo todos os instrumentos, sintetiza-dores e vozes. Já nas performances ao vivo, que passaram por 4 regiões do Brasil – em eventos acadêmicos da área  de artes e festivais como Woodgothic Festival (MG) e Goiânia Noise Festival (GO) – conto com integrantes do grupo de pesquisa atuando ao meu lado como musicistas, VJs, performers e auxiliares de palco.

Revista Keyboard Brasil: Quando iniciou seu contato com a música, como foi a migração para o experimentalismo sonoro?

Edgar Franco: Muito cedo. Meu pai, Dimas Franco, sempre gostou de música, mas ouvia quase só música erudita. Minha mãe, Alminda Salomão, sempre foi apaixonada pelas cantoras e cantores da chamada “Era do Rádio”, e ela canta muito bem, sempre trabalhou cantando durante os afazeres domésticos. Eu até gravei sua voz para uma das faixas do álbum “Neocortex Plug-in”, do Posthuman Tantra. Mas o meu interesse por criar música só surgiu quando conheci o rock e o heavy metal, no início da década de 80, primeiro com Queen e depois Ozzy e Iron Maiden. Fui fisgado de vez quando conheci Celtic Frost, Possessed e Kreator, eu já desenhava quadrinhos de terror nessa época e vi que aquela música agressiva era a trilha sonora poderosa para o grotesco. Comprei um baixo tonante e aprendi alguns acordes, tendo participado de algumas bandas de death e black metal de fundo de quintal em minha cidade natal, Ituiutaba, MG. Aos poucos, meu gosto musical foi se expandindo e conheci o rock progressivo com as bandas que flertavam com o experimentalismo sonoro. Na primeira metade dos anos 90, conheci a gravadora sueca Cold Meat Industry e adentrei-me no obscuro mundo da música dark ambient, noise e industrial. Essas múltiplas paisagens sonoras serviram de inspiração para minha retomada da criação musical que aconteceu na segunda metade dos anos 90.



RKB: Qual a tua visão ESPIRITUAL da vida, da morte? Em que acredita? Vida após a morte? Seres Aliens? Demônios & Anjos? Deus existe?

EF: Sou um livre pensador e creio no mistério e na experiência do agora! O racionalismo cientificista que reina no mundo ocidental por quase três séculos – tendo a ciência como novo dogma e panaceia para a compreensão do universo e todos os seus fenômenos – é extremamente limitado para explicar inúmeros mistérios que rompem com seus princípios. A ciência é só mais um dos caminhos possíveis e incompletos, como tantos outros, não deve tornar-se um dogma. Execro também as religiões massificantes e robotizantes, com um discurso dogmático pré-medieval, gerando ódio e promessas de paraísos pós-vida. Tenho experiências transcendentes de contato com criaturas/entidades sencientes e de vasta sabedoria, não me preocupo em classificá-las como seres extradimensionais, aliens, santos, anjos, demônios, ou algo do tipo, a mim interessa os frutos desses contatos, as transformações em minha vida. A vida após a morte não me interessa, preocupo-me em fluir o agora, o momento presente, uma dádiva cósmica incrível e mágica. Em 2011, declarei-me Ciberpajé, meu novo nome de ser transmutado que tem como objetivo a busca de minha integralidade, de tornar-me uma entidade cósmica holotrópica. Vejo-me como uma imagem holográfica do universo. Portanto, trago em mim o todo, assim como qualquer outro ser consciente que vive no Cosmos, assim, eu sou DEUS!

RKB: Cite 5 livros e autores especiais que fizeram e fazem tua cabeça.

EF: Sou um leitor voraz de filosofia ocidental, oriental, ocultismo, misticismo, magia, poesia, biografias e inúmeros outros assuntos, tenho o costume de ler até 15 livros simultaneamente. Seria muito difícil escolher 5 obras marcantes das milhares que já li, então vou selecionar 5 livros seminais que estou lendo nesse momento:
A Vida de Phillip K. Dick: O Homem que Lembrava o Futuro, de Antony Peake. Biografia do notório escritor de FC que destaca suas experiências transcendentes.
Ayahuasca: A Enredeira do Rio Celestial, de Cláudio Naranjo. Relatos de Naranjo sobre o poder do enteógeno em processos psicoterapêuticos.
Gaia: Alerta Final, de James Lovelock. Um dos maiores biólogos da história fala do aquecimento global causado por nossa voracidade devastadora, e do iminente fim de nossa espécie.
Science Fiction and Digital Technologies in Argentine and Brazilian Culture, de Edward King. Abordagem rica sobre as características da FC na literatura e quadrinhos desses 2 países.
Jardim Filosofal: Filosofia de Deuses e Demônios, de Adriano Camargo Monteiro. Obra seminal do ocultista Monteiro sobre metafísica do ser.
Como defensor do potencial filosófico e reflexivo das histórias em quadrinhos citarei também 5 obras de HQ que li recentemente:
Zodiako Premium, de Jayme Cortez. Edição luxuosa do álbum mais importan-te de um dos maiores ilustradores e quadrinhistas do mundo, o genial Jayme Cortez. HQ de fortes contornos míticos e místicos.
Garras de Anjo, de Moebius e Jodorowsky. Erotismo e sexualidade cósmica dão o tom dessa fascinante obra.
Rabid Eye - The Dream Art of Rick Veitch, de Rick Veitch. O notório quadrinhista estadunidense criou um álbum de 200 páginas totalmente inspirado em suas experiências oníricas.
Yeashua, de Laudo Ferreira Jr. e Omar Viñole. Trilogia que revisa a história do Cristo a partir de um viés muito interes-sante e humanista.
Primas, de Alberto Pessoa. Álbum que narra a história de uma prostituta do interior nordestino, uma bela e multidimensional história universal contada com ambientação regional.



RKB: Que equipamento usa para gravar? Teclados? Computador? Forma? Conteúdo? Como grava tuas músicas?

EF: Meu estúdio é conciso e trabalho com um set básico. Utilizo um controlador midi Ozone, com cerca de 15 plug-ins sonoros, alguns softwares para as apresentações ao vivo e gravações, com destaque para o Ableton Live e Fruit Loops. Utilizo muito também um sintetizador Korg Kaossilator, compacto e intuitivo. Tenho 3 bons microfones para captação de voz e de alguns instrumentos acústicos que utilizo, como didgeridoo, flautas indígenas, apitos, berimbau de boca, entre outros. Tenho uma boa placa de som e utilizo PC & MAC para as gravações, faço tudo em meu estúdio e, eventualmente, a masterização é feita em estúdios profissionais, como no caso de meus dois álbuns lançados pela gravadora Suíça Legatus Records que foram masterizados no estúdio suíço BWS. 

RKB: Que tipo de som prefere fazer, independente do que gosta? 

EF: Gosto da música que crio, chamo-a de “sci-fi ambient experimental”, pois soa como uma trilha sonora para ambientar meu universo de ficção científica, a “Aurora Pós-humana”, para o qual também crio quadrinhos, aforismos, contos, games, etc. Inclusive todas as artes de capa e encartes dos CDs do Posthuman Tantra são criados por mim. Sou um investigador de sons, sempre livre para buscar novas ambiências sonoras. Para ouvir, sou eclético no rock e música experimental, ouço desde o black metal extremo até música eletroacústica. E, se não estou criando música, estou sempre ouvindo música quando crio em outras linguagens expressivas.

“Lúcifer Transgênico”, novo álbum conceitual do Posthuman Tantra lançado pela Terceiro Mundo Chaos Discos. O trabalho foi criado e gravado em um processo ritualístico singular desenvolvido pelo Ciberpajé Edgar Franco. O conceito da obra trata da extinção iminente da espécie humana, que tem sido prevista por cientistas como o notório biólogo James Lovelock, Paul Ehrlich da Universidade de Stanford, e outros biólogos de Princeton e Berkeley, apontando sexta extinção em massa na Terra.


RKB: Quantos CDs gravou ao todo e quando (ano) data tua primeira obra? Agradeço pela honra e prazer da entrevista,  pela amizade e trampos que desenvolvemos juntos! 

EF: Em 2014, o Posthuman Tantra completou 10 anos de existência, e a gravadora inglesa 412 Recordings propôs o lançamento de um álbum duplo, tributo à banda, uma forma digna e bela de comemorar os 10 de existência como uma das forças pioneiras do gênero dark ambient no Brasil. O selo me deu completa liberdade para escolher e convidar as 14 bandas, de 4 países, que integram o tributo. O álbum duplo veio em uma embalagem especial de DVD com cards exclusivos criados pelo artista Jorge Del Bianco. O primeiro CD do Posthuman Tantra foi Pissing Nanorobots, lançado de forma independente em 2004. Em 2007, o Posthuman Tantra foi a primeira banda brasileira do gênero ambient a assinar com um selo Europeu, a Legatus Records, da Suíça, por onde já lancei 2 álbuns. Nesses 11 anos de Posthuman Tantra, gravei mais de 30 horas de música espalhadas em inúmeros CDs, EPs, splits, coletâneas, edições especiais, net labels, etc. Tenho trabalhos lançados nos 5 continentes do planeta. Já produzi mais de 10 videoclipes oficiais da banda e realizei 22 performances ao vivo. Recentemente, lancei pela gravadora “Terceiro Mundo Chaos” o novo CD do Posthuman Tantra, “Lúcifer Transgênico”, álbum conceitual que terá sua versão euro-peia lançada pela gravadora inglesa 412 Recordings. Para conhecer minha música e também as criações em outras linguagens sugiro aos leitores a visita ao meu blog. Minha gratidão e honra à você, meu amigo e admirável músico Amyr, e à Revista Keyboard Brasil  pelo espaço. Abraço cósmico do Ciberpajé.

Saiba mais sobre Edgar Franco clicando em:

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*Amyr Cantusio Jr. é músico piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.




Amyr Cantusio Jr.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016





Esse é o nosso time... 2016 promete...
Revista Keyboard Brasil



Heloísa Godoy Fagundes  
Marcelo Dantas Fagundes
Osvaldo Corarusso 
Luiz Bersou
Mateus Schanoski
Joêzer Mendonça 
Marina Ribeiro
Daniel Baaran
Amyr Cantusio Jr.
Patrícia Santos
Murilo Muraah
Luiz Carlos Rigo Uhlik


Gilberto Mendes

O pioneirismo no 
campo da música 
concreta




CONHECIDO COMO UM DOS PRINCIPAIS CRIADORES DA MÚSICA DE VANGUARDA
NO PAÍS, O MAESTRO E COMPOSITOR GILBERTO MENDES MORREU AOS 93 ANOS EM 1º DE JANEIRO. 

* Por Heloísa Godoy Fagundes




Um dos grandes nomes da música de concerto do Brasil e de fama internacional, maestro e compositor Gilberto Ambrósio Garcia Mendes, ou apenas, Gilberto Mendes, foi um dos signatários do Manifesto Música Nova, ocorrido em 1963 e publicado na revista de arte e vanguarda Invenção, ao lado de nomes como Willy Correia de Oliveira, Damiano Cozzela, Rogério Duprat e Júlio Medaglia. 

O Manifesto, pioneiro no Brasil no campo da aleatoriedade, da música microtonal e concreta, valia-se de novas notações musicais, visuais e teatrais. Gilberto Mendes também fundou o Festival Música Nova da cidade de Santos, em 1962.



No Brasil, recebeu, entre outros, o Prêmio Carlos Gomes, do Governo do Estado de São Paulo, além de diversos prêmios da APCA, o I Prêmio Santos Vivo, dado pela ONG de mesmo nome, por sua obra “Santos Football Music”, além de ter sido indicado para o Primeiro Prêmio Multicultural do jornal “O Estado de São Paulo”. Também recebeu a Bolsa Vitae, o prêmio Sérgio Mota hors concours 2003 e o título de “Cidadão Emérito” da cidade de Santos, dado pela Câmara Municipal de Vereadores. Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no ano de 2004, o autor recebeu a insígnia e diploma de sua admissão na Ordem do Mérito Cultural, na classe de comendador, do Ministério da Cultura, das mãos do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e do Ministro da Cultura, Gilberto Gil.

Verbetes com seu nome constam das principais enciclopédias e dicionários mundiais, como o Grove em inglês, o Rieman alemão, o Dictionary of Contemporarry Music, de John Vinton e vários outros. Sua obra já foi tocada nos cinco continentes, principalmente na Europa e nos EUA. Destacam-se, para orquestra, Santos Football Music e o Concerto para Piano e Orquestra; para grupos instrumentais, Saudades do Parque Balneário Hotel, Ulysses em Copacabana Surfando com James Joyce e Dorothy Lamoura, Longhorn Trio, Rimsky; para coro, Beba Coca-Cola, Ashmatour, O Anjo Esquerdo da História, Vila Socó, Meu Amor e inúmeras peças para piano e canções.


Parte final do documentário A ODISSEIA MUSICAL DE GILBERTO MENDES, dirigido por Carlos de Moura Ribeiro Mendes, numa produção da Berço Esplêndido de 2005, onde o Coro da OSESP faz belíssima interpretação de BEBA COCA-COLA, música coral de Gilberto Mendes sobre poema de Décio Pignatari. Patrocínio de Fosfertil e Carbocloro.


Gilberto Mendes foi doutor pela Universidade de São Paulo, onde deu aulas no Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes até se aposentar. Fez parte, como membro honorário, da Academia Brasileira de Música, e do Colégio de Compositores Latino-americanos de Música de Arte, com sede no México.

O músico estava internado desde a véspera do Natal na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) da Santa Casa de Santos devido a problemas respiratórios. Morreu por falência múltipla de órgãos. Gilberto era casado há 40 anos e tinha três filhos, um deles já falecido.

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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost Writer, há 10 anos no mercado musical de revistas, já trabalhou na extinta Revista Weril e agora é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas. 



Heloísa Godoy Fagundes















BANDA MØLDAR APRESENTA SEU PRIMEIRO TRABALHO INTITULADO ‘MOSTARDA’

Redação

Produzido por Raphael Mancini e lançado em novembro passado, Mostarda é o primeiro trabalho da banda paulistana de rock alternativo MØLDAR, formada em 2013. Influenciados por bandas de estilos diferentes como Foo Fighters, Los Hermanos, The Classic Crime, Switchfoot, The Juliana Theory, entre outras, seus integrantes são: Gustaf Rosin (vocal e guitarra base), Ellen Lousada (guitarra solo), Bruno Dantte (baixo), Daniel Cavalcante (bateria) e Vitor Garcia (teclados). Para a escolha das 11 músicas do CD Mostarda, houve um longo processo de seleção do rico material guardado há tempos por Gustaf. O resultado é um trabalho bem diversificado no estilo, tendendo para o rock alternativo um pouco mais pop com letras cheias de melodias e arranjos. As gravações ocorreram no Lab Mancini, na cidade de São Paulo e no Estúdio Grave, em Boituva, interior do Estado. O resultado pode ser conferido através das diversas plataformas de streaming.



As teclas do Møldar...




Vitor Garcia, 29 anos, toca piano desde os 8. Estudou piano clássico e MPB/Jazz no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí (São Paulo). Apesar do estudo clássico sempre tocou outros estilos com improvisos e composições próprias em grupos e bandas locais. Iniciou a faculdade de Produção Fonográfica e atuou como arranjador com cantores do meio cristão. Atualmente, é tecladista e backing vocal na banda MØLDAR, participando da composição e harmonização de sons e timbres do álbum “Mostarda” lançado em novembro de 2015. Para a gravação do disco, Vitor utilizou teclados Roland Fantom X6 e Nord Stage 2 HA76. Utilizou sons de piano, rhodes, órgãos, pads e sintetizadores eletrônicos.

Saiba mais sobre a banda MØLDAR:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLbedPrd4qq-Bt0nqTAiG1DthabTxwHnGq








As Etapas de Uma Produção Musical - Parte 1 -

* Por Murilo Muraah


ENTENDA PORQUE É MUITO ÚTIL COMPREENDER 
O QUE PODE SER FEITO NAS ETAPAS DE UMA 
PRODUÇÃO MUSICAL E COMO ELAS SE RELACIONAM. 


Na coluna do mês passado, tivemos uma breve introdução à produção musical, para entender melhor aspectos básicos dessa área. Já sabemos que produtores diferentes encaram a produção musical de formas diferentes - e visões diferentes também podem existir quando falamos sobre como o trabalho pode ser construído, quais ferramentas serão utilizadas, de quais maneiras, em quais momentos, para quais fins.

Para podermos entender de forma mais fácil e objetiva como uma produção musical pode partir da ideia inicial do compositor e chegar até o produto final apresentado ao público, nas próximas duas colunas veremos aqui uma forma mais tradicional e bastante linear de como esse trabalho pode ser realizado. É muito útil compreender o que pode ser feito nestas etapas e como elas se relacionam. Podemos pensar que ocorrem na seguinte ordem: Pré-Produção, Gravação, Edição, Mixagem e Masterização.

Pensar nas etapas dessa forma linear pode nos ajudar a fazer escolhas em momentos mais apropriados, para não cair naquele velho papo de que é melhor resolver um problema que se apresenta agora em alguma etapa seguinte. Nos ajuda também a focar nossa atenção de forma mais apropriada ao trabalho que está sendo realizado em cada momento. Se estamos fazendo uma mixagem e precisamos nos preocupar com problemas que poderiam ter sido resolvidos na edição, por exemplo, muitas vezes teremos que deixar de lado um estado mental mais criativo para fazer um trabalho mais mecânico - além do cansaço que virá, essa troca de foco pode dificultar a volta ao trabalho criativo.

Por outro lado, devemos lembrar que o trabalho que caracteriza cada uma destas etapas nem sempre ocorre de forma linear. Por exemplo: a gravação de um instrumento virtual presente em uma música pode ter ocorrido durante a Pré-Produção, às vezes antecipando até o uso de ferramentas e técnicas que geralmente são utilizadas nas etapas de edição e mixagem.

Mas, afinal, o que acontece nestas etapas?

Pré produção
Todo o trabalho realizado antes de iniciarmos a gravação. Essa etapa é muitas vezes negligenciada, fazendo com que as etapas seguintes sejam mais problemáticas do que deveriam ser. Durante a pré-produção, podemos planejar qual é e como será utilizado o orçamento da nossa produção, o cronograma de execução das diferentes atividades necessárias ao projeto, qual é o público que pretendemos atingir, etc.

Além de questões burocráticas, também podemos trabalhar aspectos técnicos e artísticos muito importantes nessa etapa: qual é a estética que buscamos nesta produção, quais músicas do repertório do(s) compositor(es) serão gravadas, como essas músicas podem ser arranjadas e muitas vezes até modificadas para se aproximarem mais da estética e dos objetivos desejados, etc.

Uma pré-produção bem feita nos dará a possibilidade de compreender, desde muito cedo, o que esperamos do trabalho que estamos produzindo e quais caminhos podemos seguir para chegar onde queremos, além de identificar possíveis pontos fortes e fracos do projeto, nos permitindo fazer escolhas mais conscientes durante toda a produção.


Durante esta etapa, toda a preparação para a gravação também pode ser feita, garantindo que a próxima etapa ocorra de forma mais segura, rápida e com maior qualidade. Podemos não apenas planejar quando as gravações vão acontecer, quanto tempo nos dedicaremos a elas e que salas, equipamentos e técnicas de captação poderemos utilizar, mas também garantir que todos os músicos envolvidos no projeto estarão bem preparados para executar suas partes.

Gravação
Nesta etapa, buscamos gravar todos os sons que estarão presentes na produção com a maior qualidade possível. Lembrando que a qualidade está totalmente ligada à estética desejada para a produção - o mesmo instrumento captado de forma limpa, transparente, pode representar um som de alta qualidade em um projeto e péssima qualidade em outro, caso a estética buscada exija, por exemplo, algo sujo, artificial, distorcido. Nesse exemplo, estaríamos perdendo a chance de buscar o som desejado já na gravação, deixando para tentar criá-lo nas etapas seguintes - algo que nem sempre trará resultados satisfatórios.


Para  garantir  que  uma  boa  gravação  ocorra,  não  basta plugar  ou  microfonar  um instrumento de qualquer jeito e apertar o REC. Muitas vezes precisamos gastar muito mais tempo testando formas diferentes de gravar um instrumento do que de fato realizando a captação da execução do músico. Isso acontece porque, dependendo do local e equipamentos que temos à disposição, podemos testar como o instrumento soa não apenas em salas diferentes, mas em locais diferentes dentro de uma mesma sala.

Podemos testar também quais equipamentos serão utilizados para realizar a captação (microfones, DIs, pré-amplificadores, etc.), como posiciona-remos os microfones para captar o som que desejamos, quais bibliotecas de samples serão utilizadas para gravar os instrumentos virtuais, etc.

Percebam que muitas destas atividades envolvendo a exploração de instrumentos, equipamentos e ambientes podem ocorrer ainda na Pré-Produção, principalmente quando gravamos o projeto em nosso próprio home studio. Isso pode facilitar demais o trabalho que será realizado durante a gravação, pois os músicos e técnicos envolvidos poderão focar sua energia principalmente na captação da melhor execução musical possível.

Se os sons forem gravados com boa qualidade, as etapas seguintes também terão menos complicações.  Sobre  elas  falaremos na próxima  coluna. Aproveito  para  desejar  a  todos  os leitores um grande ano, com muita música e muitas produções!


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*Murilo Muraah é Bacharel em Comunicação Social pela FAAP e proprietário da Muraah Produções, onde atua como professor de áudio analógico e digital, produtor musical, compositor de trilhas sonoras e músico. Possui vasta formação, com cursos realizados dentro e fora do Brasil, incluindo: Diploma de Música (Southbank Institute of Technology - Brisbane/AUS), Formação de Apresentadores de Rádio (Rádio 4EB FM – Brisbane/AUS), Radialista – Sonoplastia (SENAC), além de diversos cursos de composição, produção musical, áudio e acústica em escolas onde atuou também como professor. Atualmente vem apresentando cursos, palestras e workshops em importantes eventos e instituições de ensino, como a Campus Party Brasil, a Faculdade de Música do Centro Universitário FIAM-FAAM e a SAIBADESIGN, além de atuar como técnico de áudio no estúdio da Fábrica de Cultura Jardim São Luis.


Murilo Muraah